terça-feira, 13 de maio de 2008

FÉ E FÁTIMA


Numa linguagem terra-a-terra, direi que a raiz da inquietação existencial está no desejo do homem ser ele próprio e de se compreender na intimidade do seu ser. É deste desejo existencial que surge a atracção pelo transcendental. E é este desejo que inspira a fé e que permite ao homem ser Livre e (se o entender) aproximar-se de Deus.

Tal como o ser no mundo não se pode entender sem mundo,  o acto existencial, para muitos, também não se pode compreender sem transcendência, sendo  a fé, nesse sentido, uma expressão de liberdade.

Ao assumir-se esta fé como uma revelação histórica, objectivada num credo, exige um culto e a inserção numa comunidade.

Pessoalmente e numa perspectiva filosófica rejeito a exclusividade da fé religiosa, respeitando-a e reconhecendo-a em muitas expressões que fazem parte das nossas tradições.

Paralelamente, posso, para os “homens sem fé” dar múltiplos exemplos onde se verificam, exactamente os mesmos pressupostos. Recordo-me da “sagrada” Festa do Avante e todas as festas partidárias de Agosto, não esquecendo a “curiosa” festa que o Dr. Jardim mantém há anos, sem fim, na “sua” Madeira. Em nenhum destes actos me atrevo a por em causa a liberdade individual, de cada um, ser seu “fiel” seguidor. E em todas os temos!

Que espécie de transcendência os faz pulsar na sua acção prática? Ou será apenas uma questão de mobilização, materializada pela militância e organização? Que explicação temos para as intermináveis filas de homens e mulheres anónimas que, ao longo de anos e anos, circundaram mausoléus de homens “empalhados”? Refiro-me ao túmulo de Lenine!

Fátima, não é um dogma! Acredita quem quer (quem sente um chamamento). Ninguém é excomungado por não acreditar no “fenómeno” Fátima. Agora, a Liberdade de expressar esse sentimento de fé é transversal e carece de respeito e tolerância, semelhante a qualquer dos actos aqui referidos.

Termino, como já fiz uns tempos atrás, com um dos meus autores preferidos Jean Jaques Rosseau, que no Discurso Sobre a Origem e Fundamentos da Desigualdade entre os Homens que a certa altura nos desconcerta na nossa moral ortodoxa, dominical e piegas “… em vez da máxima sublime de justiça raciocinada: Faz aos outros como queres que te façam a ti, que inspira a todos os homens (propõe) esta outra máxima de bondade natural bem menos perfeita, mas mais útil talvez que a anterior: Procura o teu bem com o menor mal que seja possível para os outros."

http://cebola.net/index.php?option=com_content&task=view&id=176&Itemid=182

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