terça-feira, 29 de abril de 2008

Carta existente na Biblioteca Nacional de Lisboa


Esta é digna do Tornadouro:


Dirigida por Pina Manique, Corregedor de Santarém (e futuro Intendente de Polícia do Marquês de Pombal), ao Duque de Cadaval, Corregedor-Mor da Justiça do Reino.


'Exmo. Sr. Duque de Cadaval:

Se meu nascimento, embora humilde, mas tão digno e honrado como o da mais alta nobreza, me coloca em circunstância de V. Excia. me tratar por TU,

- Caguei para mim que nada valho.


Se o alto cargo que exerço, de Corregedor da Justiça do Reino em Santarém, permite a V. Excia., Corregedor Mor da Justiça do Reino, tratar-me acintosamente por TU,

- Caguei para o cargo.


Mas, se nem uma nem outra coisa consentem semelhante linguagem, peço a V. Excia. Que·me informe com brevidade sobre estas particularidades, pois quero saber ao certo se

- devo ou não Cagar para V. Excia.

Santarém, 22 de Outubro de 1795

PINA MANIQUE Corregedor de Santarém '

domingo, 27 de abril de 2008

Falar do 25 de Abril é Falar da Liberdade!


Quando sou confrontado com esta ideia de Liberdade e do dia que nos devolveu a Liberdade, o 25 de Abril, tenho a tendência de a pensar em relação a mim!


Da seguinte forma. As coisas, para mim, correram bem? Hoje, ainda correm bem? E, consoante as respostas, tenho a tendência para dar uma opinião mais positiva ou mais negativa acerca do tema.


Acontece o mesmo aos meus amigos?


Reflectindo um pouco mais profundamente, chego à conclusão, de que esta é uma forma de reflexão que me leva, inevitavelmente, a uma resposta/opinião egoísta, redutora e muito limitada ao meu universo.


Desde logo, eu não posso sentir a Liberdade, sem pensar nos outros. Se não for pelos que me rodeiam, que necessidade tenho eu de pensar a Liberdade? Ou da importância do dia que nos devolveu a Liberdade?


Então tenho que fazer um esforço. Cada vez que esta ideia se planta, teimosamente, na minha consciência, tenho que sair do meu universo e alargar o meu horizonte.


Quando aqui chego, normalmente, deparo-me com outro problema que tenho de ultrapassar e que o povo, na sua proverbial sabedoria, traduz muito bem: “a galinha da vizinha é sempre melhor / mais gorda do que a minha”. Trata-se, exactamente, do mesmo síndrome que descrevi no segundo parágrafo, só que agora faço-o comparando-me com o outro ou com os outros.
Agora, pensem, na quantidade e na diversidade de exemplos e de respostas que eu posso obter! Todas elas, geralmente, tendentes a atrofiar o meu ser. Tornando a minha liberdade cada vez menos altruísta e ajustada à pequenez da minha medida ou dos meus interesses.


Passa então, este exercício doloroso, por tentar sair de mim, procurando o SER, fazendo com que sobressaia mais do que o ter do outro! O mesmo em relação a mim, centrando-me mais no meu SER, do que no meu ter. Falo aqui de modos diferentes de SER (individual e social) que exigem tolerância, independência, resiliência e respeito para conviverem.


É o velho paradigma, de que não consigo libertar-me: É mais importante TER ou SER? (Acaso, acontece o mesmo convosco?)


A Liberdade só pode ser pensada no plano do SER. É uma pomba agrilhoada, quando a pensamos no plano do TER. O SER impulsiona-nos para a autenticidade de uma realidade total Humanizada, o TER aprisiona-nos ao que quer que seja de mais efémero e individual, único.


Para ultrapassar este dilema não há receitas, há a nossa consciência individual. Porque, não pensem os meus amigos que eu sou daqueles que vivem do ar e que se contentam com o que a mãe natureza lhe dá! Longe disso! Sou de todos vós, talvez o mais humano no sentido do TER! Mas isso não implica que não possa por em causa essa minha tentação ou reflecti-la para a refrear!

Preciso todos os dias, ter consciência das minhas dificuldades para reflectir neste plano, tão vital, da minha vida. Preciso, antes de tomar decisões, ter a consciência que, naturalmente, todos os interesses individuais são mais importantes, momentaneamente, do que a minha Liberdade (são as chamadas tentações!). Preciso ter consciência de que o TER me atrai, com MUITO mais facilidade do que o caminho do SER.

Para mim é mais fácil responder o que gostaria de ter do que o que gostaria de ser. E para os meus amigos? Qual é a resposta mais fácil?

Pois meus amigos, quando falo da Liberdade que o 25 de Abril nos devolveu, falo de uma Liberdade que ninguém alcança, mas de que todos devemos ter consciência do que é, porque é a Liberdade que todos desejamos!

É com a consciência desta Liberdade, autêntica, na sua utopia, mas limitada na sua prática que nos podemos tornar melhores pessoas, melhores socialmente e evoluir para uma sociedade mais justa e tolerante com a diferença (a maior das riquezas da Humanidade!).

É com esta consciência que procuro resistir, todos os dias, às avalanches massificadoras de informação que procura inferiorizar a linguagem, controlando-a. Para que as palavras tenham um só significado, procurando que a palavra Liberdade perca a riqueza do seus múltiplos sentidos, que é o meu e teu sentir, para a uniformizar num símbolo agrilhoado!


É nisto que o 25 de Abril está por fazer, porque tem que ser refeito todos os dias, por cada um de nós, na sua acção imperfeita mas, cada um, consciente de um caminho.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

VIVA O 25 DE ABRIL!


Respondi ao desafio do Marco no http://www.cebola.net/, desta forma:


Muitos têm vergonha desta singela homenagem, que não passa de uma recordação tensa!... Porque não sabem como lidar com esta ideia. Uns porque a viveram, outros porque não a viveram. Uns por cá, outros (já) por lá.

Reconheço que não é fácil esta reflexão, sobretudo se nos barricarmos na ideia política do que representa o 25 de Abril para cada partido e, ainda mais, se nos identificarmos com algum desses partidos (o que me parece normal)!

Façam o exercício (os que puderem) de se representarem, hoje, com o 25 de Abril e sem o 25 de Abril!

Eu, sem complexos, nem barricadas, sinto-me mais livre e feliz, independentemente dos meus 13 anos à data. Independentemente da minha participação política, hoje, ser idêntica à que tinha antes do 25 de Abril, tenho consciência da minha liberdade, para assim poder ser, e se a situação actual alterar, para poder ter outra atitude, mais participativa ou militante.

A tudo isto chamo consciência cívica (que pode ser mais activa ou passiva), podendo manifestá-la, como o faço agora! E, isso, devo-o ao 25 de Abril!

Com a maturidade política do nosso povo, desejo, cada vez mais, que exijamos dos nossos políticos a "representatividade" pela qual foram eleitos e não a representação individual dos seus interesses. Um político, depois de eleito, aceita um mandato que lhe foi conferido pelo voto. Deixa de se representar a si próprio! Quem se quer representar a si próprio ou aos seus interesses, não pode ser político!

Quantos políticos activos conhecem que façam isto?

Viva o 25 de Abril! Não só pela Revolução que foi mas, sobretudo, pela Revolução que ainda tem que acontecer!

domingo, 20 de abril de 2008

Porque é que a Política não é boa companheira no “caminho” deste Blog?


Uma só razão chega: porque neste contexto compromete a liberdade. E, por liberdade entendo apenas uma coisa, liberdade.


Aqui, a Política, condiciona, divide. Não porque nos digladiemos, mas porque nos opomos e opomo-nos a outra facção, o que também nos condiciona.


Opor, é diferente de discutir, de discutir em liberdade, sem que ninguém perceba qual é a cor da minha facção.


É legítimo, salutar e garante de liberdade, ter ideais, convicções, “bandeiras”, mas também é legítimo fumar e, não se fuma em todo o lado, por respeito ao outro. É nesse sentido que eu me recuso a aceitar "bandeiras políticas-partidárias" por estas bandas. Porque considero todas as pessoas que as defendem, independentemente de qual seja a sua bandeira, dignas do meu respeito.


Aqui não se hasteiam bandeiras, porque o “TORNADOURO”, não é “digno” de nenhuma delas!


Não é por nenhuma questão de intolerância!

sábado, 5 de abril de 2008

O artista que é músico, escultor e arquitecto

in DN - artes
http://dn.sapo.pt/2008/02/24/artes/o_artista_e_musico_escultor_e_arquit.html



NUNO CRESPO
LEONARDO NEGRÃO

Não se pode classificar o trabalho de Ricardo Jacinto como pertencendo exclusivamente a uma das habituais categorias das artes visuais. Os seus objectos, instalações, desenhos e concertos são lugares que cruzam diversas influências e linguagens. O seu trabalho é um dos mais estimulantes e singulares do panorama da arte portuguesa contemporânea.

Considerado como um dos nomes incontornáveis da recente arte portuguesa contemporânea, no seu recente percurso (começou a expor a partir de 2000) conta com uma participação muito aplaudida na Bienal de Veneza de Arquitectura com Pancho Guedes em 2006, uma exposição no CCB e participou em Madrid na mostra "Caminhos. Arte Portuguesa Contemporânea". Foi finalista dos dois principais concursos de arte em Portugal: o prémio União Latina e o City Desk.

O lugar que ocupa é constituído por influências que vêm da arquitectura, da música e da escultura. Elementos estes que utiliza para criar uma linguagem muito própria e que retiram o espectador do seu habitual lugar de passividade e o transformam em cúmplice das suas esculturas e paisagens sonoras.

Na Culturgest em Lisboa e no Porto, apresenta pela primeira vez um conjunto significativo e coe- rente da sua produção. O título "Earworm" (literalmente, o germe do ouvido) é o mote que as cerca de 12 instalações-esculturas desenvolvem e caracterizam.

Não se trata de uma patologia, mas daquelas músicas de ficam no ouvido e que não se consegue deixar de trautear. O som é assumido pelo artista como um dos elementos centrais das suas construções. É como se paralelamente à matéria bruta se viesse juntar a uma espécie de elemento imaterial, invisível, impalpável e inefável.

A ambição é a de, à semelhança do trabalho nas minas, escavar os mecanismos humanos da percepção. Acção que encontra nas palavras profundidade e deslocamento conceitos chave. O trabalho de profundidade é uma metáfora que o artista toma das minas da Panasqueira (as maiores minas subterrâneas do mundo, com mais de 12mil km de túneis escavados no ventre da montanha). E é esta arquitectura de profundidade que o artista toma como possibilidade e modelo.

É uma exposição notável que possibilita ao visitante uma verdadeira experiência total.