sábado, 5 de abril de 2008

O artista que é músico, escultor e arquitecto

in DN - artes
http://dn.sapo.pt/2008/02/24/artes/o_artista_e_musico_escultor_e_arquit.html



NUNO CRESPO
LEONARDO NEGRÃO

Não se pode classificar o trabalho de Ricardo Jacinto como pertencendo exclusivamente a uma das habituais categorias das artes visuais. Os seus objectos, instalações, desenhos e concertos são lugares que cruzam diversas influências e linguagens. O seu trabalho é um dos mais estimulantes e singulares do panorama da arte portuguesa contemporânea.

Considerado como um dos nomes incontornáveis da recente arte portuguesa contemporânea, no seu recente percurso (começou a expor a partir de 2000) conta com uma participação muito aplaudida na Bienal de Veneza de Arquitectura com Pancho Guedes em 2006, uma exposição no CCB e participou em Madrid na mostra "Caminhos. Arte Portuguesa Contemporânea". Foi finalista dos dois principais concursos de arte em Portugal: o prémio União Latina e o City Desk.

O lugar que ocupa é constituído por influências que vêm da arquitectura, da música e da escultura. Elementos estes que utiliza para criar uma linguagem muito própria e que retiram o espectador do seu habitual lugar de passividade e o transformam em cúmplice das suas esculturas e paisagens sonoras.

Na Culturgest em Lisboa e no Porto, apresenta pela primeira vez um conjunto significativo e coe- rente da sua produção. O título "Earworm" (literalmente, o germe do ouvido) é o mote que as cerca de 12 instalações-esculturas desenvolvem e caracterizam.

Não se trata de uma patologia, mas daquelas músicas de ficam no ouvido e que não se consegue deixar de trautear. O som é assumido pelo artista como um dos elementos centrais das suas construções. É como se paralelamente à matéria bruta se viesse juntar a uma espécie de elemento imaterial, invisível, impalpável e inefável.

A ambição é a de, à semelhança do trabalho nas minas, escavar os mecanismos humanos da percepção. Acção que encontra nas palavras profundidade e deslocamento conceitos chave. O trabalho de profundidade é uma metáfora que o artista toma das minas da Panasqueira (as maiores minas subterrâneas do mundo, com mais de 12mil km de túneis escavados no ventre da montanha). E é esta arquitectura de profundidade que o artista toma como possibilidade e modelo.

É uma exposição notável que possibilita ao visitante uma verdadeira experiência total.

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