domingo, 27 de abril de 2008

Falar do 25 de Abril é Falar da Liberdade!


Quando sou confrontado com esta ideia de Liberdade e do dia que nos devolveu a Liberdade, o 25 de Abril, tenho a tendência de a pensar em relação a mim!


Da seguinte forma. As coisas, para mim, correram bem? Hoje, ainda correm bem? E, consoante as respostas, tenho a tendência para dar uma opinião mais positiva ou mais negativa acerca do tema.


Acontece o mesmo aos meus amigos?


Reflectindo um pouco mais profundamente, chego à conclusão, de que esta é uma forma de reflexão que me leva, inevitavelmente, a uma resposta/opinião egoísta, redutora e muito limitada ao meu universo.


Desde logo, eu não posso sentir a Liberdade, sem pensar nos outros. Se não for pelos que me rodeiam, que necessidade tenho eu de pensar a Liberdade? Ou da importância do dia que nos devolveu a Liberdade?


Então tenho que fazer um esforço. Cada vez que esta ideia se planta, teimosamente, na minha consciência, tenho que sair do meu universo e alargar o meu horizonte.


Quando aqui chego, normalmente, deparo-me com outro problema que tenho de ultrapassar e que o povo, na sua proverbial sabedoria, traduz muito bem: “a galinha da vizinha é sempre melhor / mais gorda do que a minha”. Trata-se, exactamente, do mesmo síndrome que descrevi no segundo parágrafo, só que agora faço-o comparando-me com o outro ou com os outros.
Agora, pensem, na quantidade e na diversidade de exemplos e de respostas que eu posso obter! Todas elas, geralmente, tendentes a atrofiar o meu ser. Tornando a minha liberdade cada vez menos altruísta e ajustada à pequenez da minha medida ou dos meus interesses.


Passa então, este exercício doloroso, por tentar sair de mim, procurando o SER, fazendo com que sobressaia mais do que o ter do outro! O mesmo em relação a mim, centrando-me mais no meu SER, do que no meu ter. Falo aqui de modos diferentes de SER (individual e social) que exigem tolerância, independência, resiliência e respeito para conviverem.


É o velho paradigma, de que não consigo libertar-me: É mais importante TER ou SER? (Acaso, acontece o mesmo convosco?)


A Liberdade só pode ser pensada no plano do SER. É uma pomba agrilhoada, quando a pensamos no plano do TER. O SER impulsiona-nos para a autenticidade de uma realidade total Humanizada, o TER aprisiona-nos ao que quer que seja de mais efémero e individual, único.


Para ultrapassar este dilema não há receitas, há a nossa consciência individual. Porque, não pensem os meus amigos que eu sou daqueles que vivem do ar e que se contentam com o que a mãe natureza lhe dá! Longe disso! Sou de todos vós, talvez o mais humano no sentido do TER! Mas isso não implica que não possa por em causa essa minha tentação ou reflecti-la para a refrear!

Preciso todos os dias, ter consciência das minhas dificuldades para reflectir neste plano, tão vital, da minha vida. Preciso, antes de tomar decisões, ter a consciência que, naturalmente, todos os interesses individuais são mais importantes, momentaneamente, do que a minha Liberdade (são as chamadas tentações!). Preciso ter consciência de que o TER me atrai, com MUITO mais facilidade do que o caminho do SER.

Para mim é mais fácil responder o que gostaria de ter do que o que gostaria de ser. E para os meus amigos? Qual é a resposta mais fácil?

Pois meus amigos, quando falo da Liberdade que o 25 de Abril nos devolveu, falo de uma Liberdade que ninguém alcança, mas de que todos devemos ter consciência do que é, porque é a Liberdade que todos desejamos!

É com a consciência desta Liberdade, autêntica, na sua utopia, mas limitada na sua prática que nos podemos tornar melhores pessoas, melhores socialmente e evoluir para uma sociedade mais justa e tolerante com a diferença (a maior das riquezas da Humanidade!).

É com esta consciência que procuro resistir, todos os dias, às avalanches massificadoras de informação que procura inferiorizar a linguagem, controlando-a. Para que as palavras tenham um só significado, procurando que a palavra Liberdade perca a riqueza do seus múltiplos sentidos, que é o meu e teu sentir, para a uniformizar num símbolo agrilhoado!


É nisto que o 25 de Abril está por fazer, porque tem que ser refeito todos os dias, por cada um de nós, na sua acção imperfeita mas, cada um, consciente de um caminho.

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