domingo, 16 de setembro de 2012

O POVO respondeu ou não respondeu?




O que sinto neste momento, é uma revolta transversal contra toda a classe política que gere os nossos destinos. A fórmula em que constantemente nos embrulham é simples: obrigam-nos a discutir o passado para dividir e fraccionar, evitando que se discuta o futuro e a forma de evitar os mesmos/seus erros! 

Não discuto a importância de olhar para o passado recente, é fundamental. Não o podemos fazer é, constantemente, à custa das medidas que evitam que estes cenários se repitam, independentemente de quem nos governa.

Passos Coelho foi muito corajoso, quando no início do seu mandato afirmou, que nunca ouviríamos da sua boca a desculpabilização com o passado. Vi aí um rasgo da mudança! Vi aí a diferença e a esperança. E, vi aí um enorme desafio para a reabilitação d’ "a PALAVRA, para que quando ela é proferida possamos acreditar nela!", como ele próprio o verbalizou. Uma monumental desilusão! Um vazio de sentido e de destinatário, porque hoje ninguém acredita que estava a falar para os portugueses que o elegeram.

Não creio que os nossos problemas se resolvam apenas porque apontamos os culpados ou só porque discutirmos quem foi o mais medíocre. Podemos faze-lo, mas não é por isso que o vamos prevenir no futuro.

Aquilo que me preocupa, nesta hora, é como é que podemos ajudar Portugal a moralizar a vida pública, criando um quadro eleitoral e legislativo que funcione, independentemente de quem nos governa. Estas medidas passam, quanto a mim, pela criação dos Círculos Uninominais, pela criminalização do enriquecimento ilícito e pela inversão do ónus da prova para crimes económicos e financeiros (colarinho branco).

A criação dos Círculos Uninominais – permite que cada cidadão vote no seu representante para o parlamento e obriga a que cada candidato elabore o seu programa e o apresente aos seus “vizinhos” se quiser que votem nele. Desta forma, cada candidato é sufragado pelas suas acções em prol das populações que representa e não em prol dos partidos e dos interesses que estes representam. É por isso que ele será premiado se for reeleito ou afastado porque não cumpriu aquilo a que se comprometeu no seu programa. A diferença é simples, as listas partidárias mantêm, ciclo após ciclo, os mesmos incompetentes nos mesmos lugares. Nada muda!

A criminalização do enriquecimento ilícito  - bom, “se eu vender cabritos e não tiver cabras, de algum lado vieram!”, como diz a sabedoria do povo. De onde? Daqui decorre a medida seguinte;

A inversão do ónus da prova para crimes económicos e financeiros (colarinho branco) – a sabedoria popular é suficiente para a entender, “quem não deve, não teme”. Então?... O visado tem que provar onde fui arranjar os "cabritos" depois da justiça o ter declarado arguido! Quando se fala deste assunto, levanta-se logo um "coro de virgens ofendidas" em defesa do direito à privacidade, preocupados com o problema do linchamento na praça pública. Se reparem, estes profetas do direito à privacidade, são os mesmos que, sistematicamente, violam o segredo de justiça, quando essa violação lhes aproveita. São os mesmos que aniquilam adversários através do linchamento na praça pública. Portanto, não esqueçam, "quem não deve, não teme" porque a sabedoria do povo é universal e a destes senhores é pessoal.


Como cidadão sentir-me-ia muito mais protegido, independentemente de quem nos governa, afastando os lobbies e os "malabaristas" do poder e da vida pública. A democracia ficaria muito mais transparente e, com toda a certeza, abríamos o caminho a uma nova geração de políticos (não falo da idade!).


O meu sonho é impossível?

sábado, 1 de setembro de 2012

Gosto? Por onde andas?





Uma citação de Michel Foucault in 'As Palavras e as Coisas', serve para nos ajudar  a reflectir sobre a perversidade dos meios de comunicação e acerca da problematica  da globalização: Exprimindo os seus pensamentos em palavras de que eles não são senhores, alojando-os em formas verbais cujas dimensões históricas lh
es escapam, os homens que crêem que as suas falas lhes obedecem não sabem que se submetem às suas exigências.

Esta passagem ilustra de uma forma clara o contexto dos modelos actuais de comunicação. As  nossas possibilidades de intervenção e de auto-apropriação do mundo através de  chaves massificadas, convencem-nos de que somos detentores de um poder à nossa medida, auto-regulado, mediático e democrático. Olhando em redor, não é difícil de identificar quais os canais onde estas sensações se cruzam e se confrontam, quer através de redes sociais, quer através dos media tradicionais.

É chocante vermos como é que as cenas mais insignificantes - de que é exemplo o caso Ecce Homo de Borja, Espanha - assumem proporções gigantescas e como é que os verdadeiros factos, aqueles que mudam as nossas vidas, passam invisíveis aos olhos da multidão. Assistimos a uma comunicação sem sentidos, onde as vozes se cruzam e não se ouvem e onde, para cada um, chega o eco de um monologo de si próprio. Enquanto isso, os círculos do poder, manobram nos bastidores a informação que nos sufoca e espalham, cirurgicamente, barreiras de fumo que nos criam as sensações individuais de controlo, que só nos aprisionam, que só nos adormecem, que só nos tornam obedientes e egocêntricos, deixando-nos com a ideia de que fizemos tudo o que devíamos. É a própria "consciência" de que, depois disto, esgotámos as alternativas e assumimos uma postura de incapazes, renunciando à exteriorização da indignação, à imaginação e à liberdade de eu, ser único, pensar e agir.

Os estereótipos comportamentais criados artificialmente para servir às necessidades de manipulação colectiva e para limitarem a expressão da liberdade individual, confinam o mundo da minha acção a áreas de aparente liberdade, sem espaço e com desperdicio do tempo. Um exemplo prático onde o espaço e o tempo se desajustam claramente são os casos mediáticos - Freeport, Face Oculta, Submarinos, Portucale, relvas, privatização da RTP (...). Enquanto nos entretemos num mundo virtual a partilhar factos conhecidos a gostar, a comentar, a discutir a mediocridade, na maioria das vezes de forma solitária - pensando que influenciamos os outros; o tempo não perdoa e as decisões surpreendem-nos, provocando, de novo, ondas de indignação que nos fazem regredir a um tempo e a um espaço que já não é o nosso, deixando o caminho livre para as agendas políticas e para os interesses instalados jogarem a sua próxima cartada. Por isso, é que só pensamos nas consequências do nosso voto, depois das eleições. Nos períodos dedicados à reflexão e à construção de uma consciência cívica, empenhada e responsável, discutimos qual foi o actor político mais medíocre em vez de perceber, intervir e questionar os projectos apresentados! Afinal, temos o forum na mão e não o utilizamos... porquê?

A palavra like, ou gosto, vulgarizada no Facebook, é outro exemplo da nossa renúncia à verdadeira linguagem. Deixou de ser uma expressão de sentimentos, viva e re-construida a cada relação, para se tornar num mero símbolo de informação, massificado, que serve para dizer, simultaneamente, que gosto e que não gosto, independentemente do assunto que legenda. Já não somos donos nem dos nossos próprios mundos porque nos auto-subjugamos e porque nos rendemos ao óbvio sem o questionar e sem o des-construir. Auto-limitamos o conhecimento, porque a informação torna a nossa linguagem finita, previsível e controlada.