sexta-feira, 3 de abril de 2009

Aprendizagem, sustentabilidade, protecção ambiental e responsabilidade social

A Paradoxo Humano está a apostar num novo conceito de actividades 'outdoor', o 'eco-learning', através do qual a aprendizagem, a cultura e a tradição se relacionam. José Duarte Dias, 'partner' da consultora, conta como tomou contacto com o 'eco-learning' e como surgiu a ideia de organizar um programa na área das 'soft skills' que ligasse a aprendizagem à sustentabilidade, à protecção ambiental e à responsabilidade social.

Por António Manuel Venda

Como foi o seu contacto com o conceito de 'eco-learning'?

Há cerca de um ano, numa das sessões de trabalho que realizamos no âmbito do programa «Learning Together» - um programa interno da Paradoxo Humano onde apresentamos, discutimos e partilhamos em conjunto as aprendizagens e conhecimentos que cada um faz -, surgiu a ideia de organizar um programa na área das 'soft skills' que ligasse a aprendizagem à sustentabilidade, à protecção ambiental e à responsabilidade social. Internamente fomos aprofundando esta ideia, até que tomámos conhecimento de que o «Programa Aldeias de Xisto» acabava de ser reconhecido internacionalmente, na «Feira de Turismo de Berlim de 2008», por conjugar o desenvolvimento local com a preservação ambiental e o respeito pelos valores, pelos costumes e pelas tradições das populações locais, tendo obtido o segundo lugar a nível mundial. Sendo eu originário de uma das aldeias integradas nesse programa - Janeiro de Cima -, decidimos na Paradoxo Humano dar corpo ao projecto. Foi então que, na fase de pesquisa sobre desenvolvimentos relacionados com as ideias que vínhamos maturando internamente, contactámos com o conceito de 'eco-learning', o qual conhece um bom nível de desenvolvimento em países de cultura anglo-saxónica. Em Portugal não encontrámos nada. Depois, aprofundado o conceito no plano teórico-conceptual, construímos e instrumentalizámos o «Eco-Learning Outdoor Program», que estamos a apresentar aos nossos clientes, os quais estão a recebê-lo com grande interesse.
O que o significa para vocês, na empresa, este programa?
Na Paradoxo Humano sempre acreditámos que a sustentabilidade de qualquer negócio passa inevitavelmente pela defesa de valores como o respeito pela sociedade e pelo ambiente. O «Eco-Learning Outdoor Program» é para nós uma forma de pôr em prática esses valores, uma vez que proporciona o estabelecimento de parcerias com entidades e populações locais, ao mesmo tempo que preserva os seus costumes e as suas tradições, num quadro em que todos os envolvidos ganham e a responsabilidade social e a sustentabilidade e a protecção ambiental são efectivamente praticadas. A conjugação destes factores fez com que nos viéssemos a interessar e a empenhar em trabalhar a aplicação prática do 'eco-learning'.
Do conceito de 'eco-learning' com que teve contacto, que adaptações foram feitas para o vosso programa?
O conceito em si não sofreu quaisquer adaptações. Já ao nível da sua operacionalização prática sim, porque foi necessário articular os processos de aprendizagem e desenvolvimento com as actividades locais tradicionais, como o circuito do linho, as construções em xisto, os barcos típicos do rio, os fornos de pão...
Como pensa que pode ser útil o 'eco-learning' para o desenvolvimento das pessoas das empresas?
O 'eco-learning' é o nosso regresso às origens - à terra, à natureza... -, a partir da vivência e do envolvimento dos participantes na realização de actividades de aprendizagem estruturadas com base nos costumes, nos hábitos e nas tradições de uma dada localidade ou região. Para as pessoas, é a consciencialização daquilo que realmente são, porque proporciona-lhes experiências de auto-conhecimento relacional - com a empresa, a equipa, as hierarquias, os clientes, os fornecedores. -, bem como de formulação de estratégias pessoais de reforço dos seus pontos fortes e de desenvolvimento das áreas em que revelam menores aptidões e capacidades naturais. Para as empresas é uma oportunidade de fortalecerem o vínculo emocional dos seus quadros e colaboradores aos objectivos e aos valores corporativos, desenvolverem o espírito de equipa, promoverem a comunicação e o relacionamento interpessoal e departamental e, acima de tudo, demonstrarem de forma efectiva práticas de sustentabilidade e protecção ambiental, bem como de responsabilidade social.
Que tipo de acções podem ser feitas em 'eco-learning'?
As actividades comportam três componentes: aprendizagem, descontracção e responsabilidade social. Os participantes realizam actividades em que desenvolvem as suas competências relacionais, de forma lúdica, ao mesmo tempo que contribuem para o desenvolvimento das populações da localidade e da região em que é posto em prática. O «Eco-Learning Outdoor Program» que propomos inclui actividades como o ciclo do linho, as construções em xisto ou o concurso com barcos típicos - que já referi - cada uma estruturada de modo a proporcionar uma experiência efectiva de aprendizagem. Mais do que um evento lúdico e social, é um programa de aprendizagem e desenvolvimento que proporciona práticas de responsabilidade social e de sensibilização para a importância da sustentabilidade e da protecção ambiental.
Acha que o nosso país tem potencial para o desenvolvimento deste conceito, tanto em termos daquilo que pode oferecer às pessoas como em termos da apetência das próprias pessoas - e das respectivas empresas - para a sua prática?
O nosso país tem condições absolutamente excepcionais para o desenvolvimento deste conceito. Basta olharmos para a riqueza da cultura de norte a sul. Os hábitos, os costumes e as tradições das populações e das regiões são riquíssimos. O nosso papel é descobri-los, compreendê-los, interpretá-los e usá-los como metáforas de aprendizagem, ao mesmo tempo que proporcionamos oportunidades de desenvolvimento local. Muitas vezes, são mais os estrangeiros a valorizar e a utilizar esta nossa riqueza do que nós próprios, como sucede com o «Programa Aldeias de Xisto», que foi para nós uma fonte de inspiração. Na Paradoxo Humano olhamos para a cultura como um recurso que deve ser preservado, mas que pode e deve ser usado com vantagens para todos. A arte e o desafio estão aí.
Como está a ser a experiência de trabalho com o vosso programa, nomeadamente que resultados têm tido?
Tem sido uma experiência muito interessante e estimulante. A aceitação e os muitos pedidos de informação que nos têm sido dirigidos evidenciam isso mesmo. A campanha que fizemos teve um acolhimento e uma receptividade junto dos clientes e do mercado em geral que superou largamente as nossas expectativas mais optimistas. O ' feedback' que temos tido mostra que se trata de um programa marcante, diferenciador e no qual pessoas e empresas encontram respostas para muitas questões que hoje colocam a si mesmas: sobre a necessidade de respeito pelos valores em que assentam as práticas de sustentabilidade e responsabilidade social e ambiental, como a diversidade, a cooperação, a partilha entre outros.
E em termos de actividade global da empresa, o que tem acontecido?
A nossa prioridade foi a de consolidar uma identidade que aglutinasse os nossos valores, as nossas ambições e as nossas competências. Foi um percurso que gostávamos que tivesse sido mais rápido. Mas, neste domínio, a relação entre o desejo e a realidade não é linear. Foi um processo que levou o seu tempo, mas hoje a nossa identidade está interiorizada. E a prova disso é a de que os nossos clientes contactam-nos porque sabem os padrões de serviço e de conduta que estão associadas ao nosso trabalho. Por outro lado, o nosso foco mantém-se: somos e queremos ser exclusivamente profissionais nas áreas da aprendizagem, do conhecimento e do desempenho humano. Este posicionamento faz com que as nossas abordagens tenham que ser realmente únicas, para que as pessoas e as equipas aprendam com base em práticas de formação e treino em que se revejam e não surjam surpresas durante a execução dos projectos. Por isso, trabalhamos de forma não massificada, em parceria com os clientes e com muito trabalho de pesquisa, concepção e adaptação, antes da implementação no terreno. O interessante nesta abordagem é que os resultados, no final, são incomparavelmente melhores, ao mesmo tempo que aprofundamos o nosso ' know-how' sobre os nossos clientes e os respectivos sectores de actividade. O nosso conhecimento em sectores como os da energia, da construção, dos transportes, da distribuição especializada e das tecnologias de informação (TI), bem como na Administração Pública, foi adquirido desse modo.
Que planos têm para o futuro, tanto ao nível das áreas que têm vindo a trabalhar como ao nível de novos projectos?
Queremos continuar a consolidar o nosso ' know-how' nas áreas da aprendizagem, do conhecimento e do desempenho humano nas empresas. Para isso, mais do que diversificar áreas de negócio queremos aprofundar as que temos. Saber sempre mais e acompanhar melhor a evolução dos sectores de actividade em que estão os nossos clientes, para podermos continuar a inovar e a oferece-lhes constantemente propostas de valor que os tornem mais competitivos. Ao mesmo tempo, pretendemos manter os nossos padrões de qualidade e profissionalismo em todos os projectos e em todos os clientes. E, para além de tudo isto, teremos que estar à altura do desafio que os nossos clientes em Portugal nos estão a colocar: ir com eles para Espanha, Angola e Cabo Verde e fazer lá o mesmo com a qualidade e o profissionalismo que fazemos cá. Claro que isso enche-nos de orgulho e satisfação. Alavanca o nosso entusiasmo. Mas como sabemos que o sucesso não se faz com sorte, temos que ter ainda mais foco, disciplina, responsabilidade e, sobretudo, profissionalismo, muito profissionalismo.

Roubei aqui: http://www.human.pt/entrevistas/entrevista1.htm