quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

PePe

Estou a vê-los, todos alinhados, todos compostos, todos galanteiros, irrepreensivelmente penteados e vaidosos. Ocupavam o lugar central do coro, rodeando o orgão electrónico preto que dava um brilho especial à missa do galo, tocado pela Senhora Dona Otília!  Formavam um quadro de orgulho e promissor de uma nova geração mineira. Eu, garoto, sentado no banco lateral do fundo da igreja, ficava embasbacado de olhitos arregalados a ouvi-los cantar.

O Pepe não está na Foto?
É esta a primeira imagem que guardo do Pepe, no meio deles, igual a eles, apenas com uma diferença, usava lenço na lapela, o que lhe dava um toque muito mais distinto. O Pepe, cativou-me de imediato. Deles todos, era o que mais estava à minha altura. Dito por outras palavras, era o que estava mais próximo de mim. Os outros, eram todos do tamanho do meu pai! Estavam fora de questão. E, os dias e os anos foram correndo e o Pepe foi entrando nas nossas vidas de uma forma muito natural, estava onde todos estavam e tinha uma sensibilidade especial para lidar com os garotos, sobretudo com os mais curiosos e com os mais traquinas, fazendo autênticos milagres. Geria as nossas energias como ninguém, tanto organizava uma partida de futebol para nos quebrar os ânimos, como nos lia uma notícia do jornal e orientava a discussão que se seguia. Dava-nos responsabilidades, dava-nos tarefas e sabia premiar. Também sabia dar uns carolos como ninguém. Tinha uns nós dos dedos, rijos como um martelo! O escritório do Pepe era o local dos nossos tempos livres quando já éramos mais crescidos e, com alguma frequência, os nossos pais ligavam para o telefone do Pepe para nos darem um recado. Era oficial e sem formalismos e sabiam onde estávamos!

Foi assim que a minha amizade e a de muitos dos meus companheiros de infância e da juventude se afirmou, cada vez mais, com o nosso Pepe. Todos os que viveram na Barroca Grande se lembram de ver o Pepe rodeado de adolescentes e jovens e dos nossos irmãos, ainda crianças, que tinham por ele o mesmo fascínio que eu descrevi. O Pepe era de facto diferente em tudo e para melhor! E não são palavras de circunstância nem de rodeio acerca da diferença as que me vêm à memória, porque a sua diferença vem da sua e força e da proximidade que estabelecia com todos os que com ele se relacionavam.

Seria injusto da minha parte não lembrar a amizade do Pepe com o "grupo do coro da Senhora Dona Otília". Lembro, desse grupo, o António Serrão e reuno nele o outro lado da ponte que o Pepe estabelecia, tão bem, entre os mais novos e os mais velhos. Quer fosse no adro da igreja depois da missa, quer fosse no clube no dia da matiné, lá estava o Pepe a patrocinar os contactos com os nossos ídolos, do hóquei, do futebol, do conjunto... todos acarinhavam e respeitavam o Pepe e nós sentíamos isso. A D. Sara, esposa do Sr. Pinto, era outra amiga incondicional do Pepe e sua promotora e confidente, tinham uma relação especial e cúmplice. Agora me lembro e relaciono a possível razão desta amizade, o Sr. Ricardo, pai do Pepe, tinha a oficina de correeiro mesmo ao lado da loja da D. Sara!

É assim que lembro o Pepe e, com ele, uma parte muito importante da minha infância e da minha juventude, que inclui muitos dos meus amigos e muitas pessoas mais velhas de quem aprendi a gostar e a respeitar. O Pepe é, e continua a ser, um elo da nossa história de vida e da história da amizade que nos une, por isso, fica connosco.

Está a olhar para nós... desde cima, em grande!

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