sábado, 2 de novembro de 2013

Gasómetro - Um Museu Mineiro



Cascais, 30 de Outubro de 2013
Ainda estou a digerir um turbilhão de emoções do passado sábado - 26 de Outubro - na Barroca Grande. Pensei que era exagero meu e deixei passar mais uns dias para perceber se o que ali senti tem o selo que lhe confere a marca das coisas que valem a pena reter. E, para o caso, as marcas estão exactamente com a mesma intensidade.
Tinha comigo (como companheiros de viagem) três genuinos seres urbanos que já “viram tudo”, que já “foram a todo o lado” e a quem eu tinha contado a história de um menino que nasceu e cresceu numa região mineira, um homem que ama muito a sua terra e as suas gentes. Para os poder cativar mais, fui-lhes falando da riqueza económica da região, da fabulosa e da trágica história do Couto Mineiro e dos seus principais heróis – os Mineiros. Falei-lhes do sucesso, do declínio e da actual relativa estabilidade dessa micro sociedade. Contudo, não era suficiente. Para abordar ou para discutir este assunto não era necessária uma deslocação tão grande (Cascais - Barroca Grande, viagem directa, com muito enjoo à mistura!). Juntei-lhe o desafio de verem esta história ao vivo e entusiasmei-os ao longo da viagem com a minha emoção. Tudo montado, o meu plano não podia falhar!
Chegados à Barroca Grande, depois de bem confortados, recuperados com um excelente almoço à boa moda beirã, fomos caminhando até ao Museu. Quando a porta do gasómetro, onde está instalado o Museu Mineiro, se abriu, senti-me em casa e tão seguro como um pássaro se sente no seu ninho.
As descrições que fizera aos meus companheiros de viagem estavam tão precisas que me arrepiava ao subir cada degrau da escada e descobria cada recanto do interior do gasómetro e, sobretudo, quando confirmava que o meu imaginário e que as minhas descrições pertenciam ali e coincidiam com as do nosso anfitrião. Claro que já tinha visto, embora de uma forma difusa, o ambiente do seu interior através das redes sociais. Imaginar o funcionamento de um gasómetro, para um garoto que sempre gostou de brincar com carbureto e de inalar os seus gases, também não era a parte mais difícil. Levava a certeza que ali havia vida, havia vidas, havia alegria, havia sofrimento, havia solidariedade, havia amizade, há muito trabalho e há, fundamentalmente, muito amor. Afinal, há aquilo de que se fazem as coisas que valem (mesmo) a pena!
Indescritível.
Já no exterior, o António voltou a insistir, “(…) tu já tinhas visitado o museu?”, e desta vez com a Rosa, outra companheira, a secundar… “já! já... até sabias onde estavam as pedras!”. Desisti, por uma boa razão! Afinal eu nunca o tinha visto, mas (re)vivi cada recanto do gasómetro, personalizei cada documento, personalizei cada objecto, e situei cada personagem em cada história que eles contam. Redescobri um outro olhar sobre uma parte significativa da minha vida e sobre o significado dos locais, das coisas e das pessoas que por ela passam e que ficam. Fiquei mais eu, porque me situei melhor e fiquei, sobretudo, mais tranquilo comigo.
Mas, o mais importante que aqui quero testemunhar, é dizer que cumpri o objectivo a que me propus com a viagem e com as expectativas dos que me acompanharam. Tudo foi superado e surpreendente. Não vos consigo explicar de onde (me) vieram estas certezas antes da visita… mas também há coisas que não se explicam!
Afinal as nossa raízes falam e ficamos mais fortes e seguros quando sentimos onde pertencemos. Foi uma tarde de emoções, de muita comoção, foi uma tarde de muito espanto e de muita surpresa, de conhecimento, de curiosidades, de companheirismo e… de novos fãs!
Foi fantástico!
Bem hajas, José Luís Campos, pelo teu trabalho. 

p.s. É um orgulho visitar a Barroca Grande e verificar o desenvolvimento de um trabalho sistemático de recolha, de preservação e de organização da história viva do Couto Mineiro. Impressiona todos os que aí vivem, viveram ou cresceram e, como eu pude testemunhar, surpreende e rende, até, os mais cépticos que nos visitam pela primeira vez. Votos de muita força para continuares com o trabalho que inicias-te. É merecedor de todo o nosso apoio e, sobretudo, de todo o nosso respeito e gratidão.


Não adiem mais a vossa visita!

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