quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Estou farto disto tudo !.........


Tiago Mesquita - Expresso.
8:00 Terça feira, 6 de novembro de 2012
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"Estou farto de ver o país sequestrado por corruptos. Farto de ver políticos a mentir. Farto de ver a Constituição ser trespassada. Farto de ver adolescentes saltitantes e acéfalos, de bandeira partidária em punho, a lamberem as botas de meia dúzia de ilusionistas. Farto de oportunistas que, após mil tropelias, acabam a dirigir os destinos do país. Farto de boys que proliferam como sanguessugas e transformam o mérito em pouco mais do que uma palavra. Farto da injustiça social e da precariedade. Farto da Justiça à Dias Loureiro. Farto dos procuradores de pacotilha. Farto de viver num regime falso, numa democracia impositiva. Farto da austeridade. Farto das negociatas à terceiro mundo. Farto das ironias, da voz irritante, dos gráficos e da falta de sensibilidade de Vítor Gaspar. Farto dos episódios inacreditáveis do 'Dr' Relvas, das mentiras de Passos Coelho e da cobardia de Paulo Portas. Farto de me sentir inseguro cada vez que ouço José Seguro. Farto de ter uma espécie de Tutankhamon como Presidente da República. Farto dos disparates do Dr. Mário Soares. Estou farto de ver gente a sofrer sem ter culpa. Farto de ver pessoas perderem o emprego, os bens, a liberdade, a felicidade e muitas vezes a dignidade. Farto de ver tantos a partir sem perspectivas, orientados pelo desespero. Farto de silêncios.


Farto do FMI e da Troika. Farto de sentir o pânico a cada esquina. Farto de ver lojas fecharem a porta pela última vez e empresas a falir. Farto de ver rostos fechados, sufocados pela crise. Farto dos Sócrates, Linos, Varas, Campos e outros a gozarem connosco depois de terem hipotecado o futuro do país. Farto da senhora Merkle. Estou farto de ver gente miserável impor a miséria a milhões. Farto da impunidade. Farto de ver vigaristas, gente sem escrúpulos, triunfar. Farto de banqueiros sem vergonha, co-responsáveis em tudo, a carpirem mágoas nos meios de comunicação social. Farto de ver milhares de pessoas a entregarem as suas casas ao banco. Farto de vergonhas como o BPN e as PPP. Farto de ver um país maltratar os seus filhos e abandoná-los à sua sorte. E, finalmente, estou farto de estar farto e imagino que não devo estar só."


domingo, 23 de dezembro de 2012

Até quando estamos dispostos a renunciar aos nossos direitos e à justiça?

Não restam dúvidas. O governo português (PSD/CDS), a oposição da área do poder (PS) e a oposição instalada (PCP, PEV e BE) trabalham a tope nas agendas próprias, alheados do estado real do país e das consequências da suas atitudes e das suas posições totalmente autistas.

A irredutibilidade de uns e dos outros é a única certeza e é a única estratégia com que podemos contar para enfrentar a grave crise com que nos debatemos. Uns dizem que o povo é o culpado porque vive acima das suas possibilidades e que, a partir de agora, temos que ser uns pobres desgraçados, do tipo Isabel Jonet (e... Fernando Ulrich) - pobrezinhos mas ordeiros. Os outros, clamam que não paguemos e que se lixem os credores, porque o povo é soberano. É assim que, dia após dia, debate após debate, os representantes que elegemos, no governo ou na oposição, tratam dos nossos assuntos e decidem das nossas vidas. Empurram para a frente e alternam-se, sem respostas, sem conclusões e sem soluções. Só conversa fiada de um lado e do outro.

Falhanço após falhanço, o governo actual e os que o antecederam contam e contaram com a brandura social e com a ausência de propostas credíveis de uma oposição responsável e preparada para fazer a diferença com um programa robusto, exigente e ajustado ao tempo. Todos os governos caíram de maduros mas, só depois de terem assaltado politicamente todas as instâncias do aparelho de estado e depois de terem saqueado os cofres das finanças públicas num esbulhe consentido e inimaginável de contratos, trapaças, subvenções... Hoje percebemos, pelas piores razões, o volume do roubo que nos foi feito por todos os partidos da área do poder e consentido pela irresponsabilidade das oposições irredutíveis. Essa percepção é, tão só, a medida dos sacrifício que hoje exigem a trabalhadores e a  empresários em Portugal. Cada um de nós, sabe quanto é... e, o dinheiro, que nos roubaram, sumiu-se do país e não foi parar ao bolso dos trabalhadores nem dos empresários sérios e que pagam os seus impostos. Ao contrário do que Ulriche's, Gaspare's, Coelho's, Jonet's, Borges e outros "especialistas"  e comentadores nos querem fazer acreditar!

Este é o resultado do preço do nosso alheamento, da nossa desresponsabilização e da nossa falta de participação cívica. Os actuais partidos acumularam um capital de poder inversamente proporcional à cidadania participativa e há lógica da representatividade. Ou seja, quanto menor é a participação dos cidadãos, maior é o espaço  de acção que permite a voracidade das máquinas partidárias, disciplinadas e hierarquizadas, sem excepção. Se de um lado assistimos a guerras fratricidas pelo poder (PSD/CDS/PS), do outro, estranhamente, somos espectadores das transmissões de poder oligárquicas (PCP/PEV/BE). A consequência deste establishment é a de perpetuar um regime sem prioridades económicas nem financeiras, sem prioridades sociais, sem prioridades culturais, sem prioridades ambientais, sem um pingo de moral, sem uma réstia de ética e sem gente de carácter que ponha o interesse de Portugal acima dos seus próprios interesses. É um país sem Estado real e sem Justiça!

Uns, olham para os cidadãos como um autêntico alvo a abater e encontram no suor do seu trabalho uma fonte de receitas justificada pela irresponsabilidade do povo (gastador) português sonegando-lhe os direitos adquiridos e a dignidade. Os outros, olham para os cidadão como vítimas inevitáveis de uma chacina que alimenta a razão e os argumentos da sua luta, perpetuada no populismo verbal, tipicamente parlamentar, de um status quo de aparente combate sem nenhum resultado prático.

Perante as denúncias concretas a que todos assistimos, exige-se que ao nível nacional, os representantes eleitos pelo povo tomem medidas extraordinárias. Os deputados da Assembleia da República foram eleitos e investidos pelo poder do povo, não foram eleitos pelos partidos, nem pelos interesses que prioritariamente representam. Exige-se proatividade, exigem-se iniciativas legislativas, exigem.se medidas urgentes e extraordinárias no tempo e no quadro do poder que lhes confiámos. Por outro lado, o poder judicial, tem que responder perante o povo sobre o que se está a passar na investigação e no julgamento de tantos processos que se arrastam e prescrevem. Os Juízes e o Ministério Público, têm que assumir, a partir da sua independência, a condução inequívoca das rédeas da Justiça sem preconceitos e sem rodeios. A justiça tem que responder à pergunta "porque é que Portugal é um dos países europeus onde a corrupção é o meio de influência mais utilizado e porque é que não existem corruptos? E, se a Justiça não tem meios, o poder legislativo tem que os encontrar e já! Não há desculpa para a situação inqualificável e vergonhosa que passa impune diante dos nossos olhos! O maior custo para Portugal é continuar tudo como antes.

É justo exigirmos os nossos impostos de volta e é justo obrigar quem nos roubou a devolver o que não lhe pertence, é justo que lhes sejam confiscados e arrestados os bens para os quais não trabalharam. A máquina fiscal e os bancos é assim que agem perante os cidadãos, quando não cumprem com as suas responsabilidades. Tiram-lhes a casa, os bens... sem dó nem piedade. Temos que ter pena de quem?... de quem nos roubou, daqueles que são os verdadeiros responsáveis pela penúria a que chegamos.

Só não vê quem não quer! E... "o mais cego é aquele que não quer ver!".

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

PePe

Estou a vê-los, todos alinhados, todos compostos, todos galanteiros, irrepreensivelmente penteados e vaidosos. Ocupavam o lugar central do coro, rodeando o orgão electrónico preto que dava um brilho especial à missa do galo, tocado pela Senhora Dona Otília!  Formavam um quadro de orgulho e promissor de uma nova geração mineira. Eu, garoto, sentado no banco lateral do fundo da igreja, ficava embasbacado de olhitos arregalados a ouvi-los cantar.

O Pepe não está na Foto?
É esta a primeira imagem que guardo do Pepe, no meio deles, igual a eles, apenas com uma diferença, usava lenço na lapela, o que lhe dava um toque muito mais distinto. O Pepe, cativou-me de imediato. Deles todos, era o que mais estava à minha altura. Dito por outras palavras, era o que estava mais próximo de mim. Os outros, eram todos do tamanho do meu pai! Estavam fora de questão. E, os dias e os anos foram correndo e o Pepe foi entrando nas nossas vidas de uma forma muito natural, estava onde todos estavam e tinha uma sensibilidade especial para lidar com os garotos, sobretudo com os mais curiosos e com os mais traquinas, fazendo autênticos milagres. Geria as nossas energias como ninguém, tanto organizava uma partida de futebol para nos quebrar os ânimos, como nos lia uma notícia do jornal e orientava a discussão que se seguia. Dava-nos responsabilidades, dava-nos tarefas e sabia premiar. Também sabia dar uns carolos como ninguém. Tinha uns nós dos dedos, rijos como um martelo! O escritório do Pepe era o local dos nossos tempos livres quando já éramos mais crescidos e, com alguma frequência, os nossos pais ligavam para o telefone do Pepe para nos darem um recado. Era oficial e sem formalismos e sabiam onde estávamos!

Foi assim que a minha amizade e a de muitos dos meus companheiros de infância e da juventude se afirmou, cada vez mais, com o nosso Pepe. Todos os que viveram na Barroca Grande se lembram de ver o Pepe rodeado de adolescentes e jovens e dos nossos irmãos, ainda crianças, que tinham por ele o mesmo fascínio que eu descrevi. O Pepe era de facto diferente em tudo e para melhor! E não são palavras de circunstância nem de rodeio acerca da diferença as que me vêm à memória, porque a sua diferença vem da sua e força e da proximidade que estabelecia com todos os que com ele se relacionavam.

Seria injusto da minha parte não lembrar a amizade do Pepe com o "grupo do coro da Senhora Dona Otília". Lembro, desse grupo, o António Serrão e reuno nele o outro lado da ponte que o Pepe estabelecia, tão bem, entre os mais novos e os mais velhos. Quer fosse no adro da igreja depois da missa, quer fosse no clube no dia da matiné, lá estava o Pepe a patrocinar os contactos com os nossos ídolos, do hóquei, do futebol, do conjunto... todos acarinhavam e respeitavam o Pepe e nós sentíamos isso. A D. Sara, esposa do Sr. Pinto, era outra amiga incondicional do Pepe e sua promotora e confidente, tinham uma relação especial e cúmplice. Agora me lembro e relaciono a possível razão desta amizade, o Sr. Ricardo, pai do Pepe, tinha a oficina de correeiro mesmo ao lado da loja da D. Sara!

É assim que lembro o Pepe e, com ele, uma parte muito importante da minha infância e da minha juventude, que inclui muitos dos meus amigos e muitas pessoas mais velhas de quem aprendi a gostar e a respeitar. O Pepe é, e continua a ser, um elo da nossa história de vida e da história da amizade que nos une, por isso, fica connosco.

Está a olhar para nós... desde cima, em grande!